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註釋

Prezados leitores, 

Apresentamos agora a segunda coleção de textos “Diálogos Contemporâneos em Geografia”, com reflexões, teorizações e pesquisas no âmbito do curso de Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília.

É sempre um prazer publicar estudos que mostram um mundo tão atual com teorizações e reflexões sobre problemas que reúnem a espacialidade, na relação sociedade/natureza, e a temporalidade de suas transformações, pois a vida do mundo se processa no espaço e no tempo desde os primeiros momentos em que a Geografia é pensada. 

Nos tempos modernos, na atualidade, os estudos geográficos se fazem com fotos, cartografia, teorias e métodos científicos, mas na Antiguidade a espacialidade e o tempo estavam presentes nos mitos e nas lendas. Assim, Homero, no séc. X a.C. faz seu herói, Ulisses, navegar durante vinte anos pelos espaços míticos do Mediterrâneo na volta para Ítaca, sua cidade natal, depois da guerra de Tróia. Porém, as observações científicas já se faziam presente, por exemplo, com a constatação da esfericidade da Terra, crença comum na Grécia antiga e Eratóstenes, no séc. III a.C, mensurou seu diâmetro bastante próximo das mensurações atuais. Eratóstenes também deu um nome ao conhecimento a que se dedicava: escrever sobre a Terra (GEO – terra; grafia – escrever.). 

Percebe-se, então, que a Geografia é uma construção prático/teórica antiga e isso ocorre porque vivemos de tal maneira imersos no espaço que não podemos conceber nada que esteja fora dele ou a ele relacionado. Entretanto, foi na divisão social do trabalho científico moderno, ocorrido em fins do século XIX e princípios do século XX, que se delimitou para a Geografia aquele vasto território situado entre a sociedade e a natureza. O estudo de campo tão extenso de conhecimentos valeu-lhe a designação, por Foucault (1992), de “ciência inclassificável”. Por outro lado, campo tão vasto permitiu-lhe teorizações que abarcam vários domínios de saber para compreender como se organiza seu objeto, o espaço e a espacialidade e a sociedade no espaço e no tempo (PELUSO et alii, 2015). 

Então, vejamos como a Geografia teoriza os temas do espaço e da espacialidade sob seus domínios. A preocupação dos trabalhos e pesquisas da atualidade é fazer uma Geografia realmente investigativa e crítica, analisando e ressaltando problemas com que se defronta a esfera-mundo. Os problemas são gerais e importantes para a sociedade, abordados por meio de um método e de uma teorização que se especificam num determinado lugar, pois se ligam às condições próprias do objeto pesquisado.

Significa, também, que se trabalha com um método de análise passível de ser levado a muitos lugares de pesquisa, cujos problemas podem ser diferentes, mas o método e a teoria garantem a geograficidade. Trabalha-se, assim, simultaneamente com o geral do método e da teoria e com o particular do problema situado num espaço físico e material que se altera com o tempo.

Mas, a Geografia trabalha também com outros espaços/tempos, como os tempos da memória e da percepção e procura situar os temas geográficos dentro de uma visão humanística no sentido de que diz respeito, profundamente, a vida que se processa em sociedade e na qual o indivíduo se encontra incluído. Supera-se, desta maneira, a dicotomia espaço exteriorizado/observador humano e vai-se trazer o sujeito de volta ao espaço, tornar possível o encontro espacial. 

Assim, a Geografia é constantemente reescrita, torna-se uma ciência dinâmica, respondendo aos reclames da sociedade que, no final, é quem lhe proporciona os interesses, os conceitos e as possibilidades de prática. Dessa maneira, reúne-se a materialidade do espaço e a vida que o anima.

É sob este prisma que os esforços dos autores dessa coletânea, como no primeiro volume, desenvolvem suas teorizações que os levaram a compreender a complexidade da realidade concreta e que se desenvolvem em três capítulos.

No primeiro capítulo, denominado “Do regional ao local”, encontram-se dois artigos em que as dimensões do regional focam no Centro-Oeste no estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, para no capítulo 2, os artigos se centrarem em Brasília, a Capital transferida para o Centro-Oeste com o objetivo de desenvolver as áreas centrais do Brasil.

No primeiro artigo, Silva inicia pela colonização do Centro-Oeste, com os desbravadores em busca de ouro e pedras preciosas, quando a desigualdade já se fazia presente, até a substituição progressiva da mineração pela agropecuária que se tornou, na modernidade, a atividade regional mais importante e, também do estado de Mato Grosso. Silva foca na conurbação da capital, Cuiabá, com o município vizinho de Várzea Grande, e a desigualdade torna-se mais flagrante quando a terra se transforma numa mercadoria disponível para poucos, aqueles com melhor poder aquisitivo e lhes dá acesso aos bens e serviços oferecidos nas áreas centrais.

No segundo artigo, Baldo analisa a atividade turística rural no território quilombola Furnas do Dionísio, situado em Mato Grosso do Sul. Baldo mostra a importância do turismo em três frentes: a primeira leva a preservação do meio ambiente, pois os turistas buscam o contato com a Natureza. Na segunda frente, o turismo rural permite um acréscimo na renda das famílias quilombolas, pois os turistas adquirem os produtos alimentares artesanais produzidos no quilombo. Na terceira frente, e não menos importante, o turismo rural mostra-se como um caminho para preservar a memória, a história e a cultura da comunidade sempre ameadas pela modernização.

Iniciando o Capítulo 2, Brasília: A origem da metrópole fragmentada à Capital Federal do século XXI, chega-se ao Distrito Federal e a Brasília. 

Oliveira e Peluso analisam a campanha de erradicação de favelas na década de 70, enquanto se construíam as áreas programadas pelo Plano Piloto, de Lúcio Costa. Os trabalhadores da construção civil e outros menos qualificados, buscavam habitação fora das áreas planejadas, formando invasões. Os autores analisam as justificativas para a erradicação da maior invasão do Distrito Federal na época, a Vila do IAPI, cujos moradores formaram a cidade-satélite de Ceilândia. As expectativas dos transferidos e sua situação no momento atual mostram as desigualdades sociais da Capital da Esperança.

Mas, não foi somente a Vila do IAPI que não encontrou lugar nas áreas planejadas. O crescimento e a influência da nova Capital impactaram também os municípios vizinhos e Dourado analisa a formação de uma área metropolitana com espaços desiguais e conflituosos, porém articulados a Brasília, quando o solo urbano se torna mercadoria e não lugar de habitação. A lógica da formação da extensa área sob a influência da Capital Federal consistiu na realocação dos migrantes para além da área central, denominada por Dourado de Brasília 1 e a formação da Brasília 2 e finalmente, a periferia goiana, a Brasília 3, o chamado Entorno, para os que não encontraram moradia na Brasília 2.

Fechando o Capítulo 2, Brasília está consolidada, o sonho dos migrantes da década de 70, que buscavam melhores condições de vida para si e para seus filhos parece finalmente realizado. Sousa e Peluso mostram como o trabalho formal e estável, tanto público como privado, decorrentes do esforço pessoal e do desempenho escolar, eram buscados na década de 90 como maneira de obter bem-estar e se posicionar no mundo. Porém, a “modernidade líquida” (Bauman, 2001), com empregos temporários e a desconstrução das relações trabalhistas e previdenciárias recentes, alterou as perspectivas e gerou instabilidade e insegurança para os jovens em busca de emprego.

O último, Capítulo 3, “Diálogos com a saúde e a educação”, inicia-se com o alerta, em linguagem provocativa de Santos e Teles, sobre o atual momento globalizado, com preocupação semelhante ao artigo anterior, qual seja, a precarização, a “uberização” e as desigualdades no trabalho. Os autores acrescentam o perigo das “likes” pelas redes sociais e a disseminação de notícias falsas e antidemocráticas. A memória e os significados sociais tornam-se fluidos e arbitrários, simulacros, que se retroalimentam e se autodestroem continuamente. A pandemia do coronavírus mostra-se como a oportunidade de repensar o movimento destrutivo, fazer o sistema funcionar de maneira mais justa e reorganizar a produção de sentidos para um mundo melhor.

E um mundo melhor poderá acontecer, como sublinha Castro, com educação inclusiva para os povos tradicionais do campo e que atenda às necessidades de assentados, indígenas, seringueiros, quilombolas e outros campesinos. Os modelos pedagógicos são tomados das escolas urbanas e dificultam aos não urbanos se reconhecer como sujeitos de direitos e com um papel relevante na sociedade. O movimento por uma Educação no Campo valoriza as identidades e os coletivos construídos nos territórios não urbanos reconhece suas historicidades, suas identidades, suas vidas, suas formações e suas reais e concretas necessidades. 

A educação emancipadora também é tema do artigo seguinte, em que Sousa e Luz Neto analisam o projeto pedagógico “Sonhar é Preciso” desenvolvido no ensino médio de uma escola pública de Taguatinga/DF. Verificou-se que os alunos pouco acreditavam em sua capacidade de prosseguir seus estudos para um nível universitário. Dessa maneira, o projeto, multidisciplinar, focou nas potencialidades dos alunos, estimulando cada discente a superar seus limites em busca de novos conhecimentos e novos significados para sua vida adulta. O resultado foi compensador e aumentou a procura pela Universidade de Brasília e o ingresso no ensino superior.

E, encerrando essa coletânea, volta-se às questões da saúde, em que Feitosa analisa a busca por plantas medicinais e a ressignificação do ofício dos raizeiros no moderno Distrito Federal (DF), mas em que migrantes mantém os padrões culturais de suas regiões interioranas de origem. A autora vai em busca dos pontos de venda nas ruas e nas feiras e nos motivos da permanência do ofício de raizeiro quando a medicina científica está disponível. Os motivos da permanência do raizeiro seria o alto nível de desemprego e subemprego no DF e os filhos, assim, voltam-se para o trabalho dos pais e dão continuidade ao ofício de raizeiro, expandindo-o e modernizando as práticas tradicionais.

Ao final da apresentação dos nove artigos que compõem a presente coletânea deseja-se que a leitura contribua para melhor compreensão dos problemas contemporâneos e do Distrito Federal, forneça uma leitura agradável e inspire outros temas com outras problemáticas.