Em As confissões de frei Abóbora, José Mauro de Vasconcelos resgata episódios de sua vida adulta. Ele recupera personagens e fatos referidos em Doidão, ao mesmo tempo que interpola reminiscências infantis e juvenis, posteriormente retomadas e desenvolvidas em O meu pé de laranja lima e Vamos aquecer o sol.
Numa narrativa não linear, o plano da ação e o da memória vão se superpondo, para compor o fio narrativo e a cronologia dos acontecimentos. Por meio de uma história dramática, o romance tem um discurso filosófico, religioso e político que transcende o mero factual. Frei Abóbora, homem despojado de ambições materiais que se devota à causa dos índios, passa a vida entre a cidade e o sertão.
Na visão de mundo do protagonista — um ser em permanente conflito existencial —, as criaturas ligadas à natureza, desprovidas de maldade e malícia, fazem retornar a inocência perdida à alma do homem, corrompida pelo caos de uma civilização eminentemente urbana.