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Histórias de São Leopoldo - Dos povos originários às emancipações
註釋

A ocupação do espaço geográfico de São Leopoldo teve como componente essencial a imigração de alemães, com a primeira leva chegando em 25 de julho de 1824. A partir desse momento, grande número de colônias formadas por imigrantes alemães seriam implementadas também em outras regiões do Rio Grande do Sul. Na sua estruturação básica, as colônias eram Linhas e Picadas, constituídas através de penetrações na floresta subtropical, ao longo das quais eram assentadas as famílias nos seus lotes de terras. Depois de estabelecidos, nesse cenário também se desenvolveu a vida comunitária e associativa, que incrementou o povoamento do Rio Grande do Sul, indo ao encontro das pretensões do Império Brasileiro. Porém, nos primórdios da localidade e na sua formação étnica, antes mesmo da chegada dos alemães, aquele espaço que viria a ser posteriormente a Colônia Imperial de São Leopoldo percebia-se confrontada por pessoas e famílias que já estavam habitando a região havia mais de um século.

Dessa forma, indígenas, açorianos, portugueses e escravos africanos passaram a fazer parte – de imediato – da realidade desse grupo de alemães, composto por agricultores, artesãos, soldados, médicos, pastores, entre outros profissionais. Sabemos que os primeiros imigrantes não estiveram isolados no núcleo urbano de São Leopoldo; ao contrário, seu cotidiano foi pautado por relações interétnicas. A história que procuramos registrar é constituída por várias histórias sobre São Leopoldo, numa escrita através de recortes investigando as raízes genealógicas nos seus primórdios, iniciando pelo menos uns duzentos anos antes da chegada dos primeiros imigrantes europeus. Nossas histórias, através desses recortes do cotidiano, estendem-se até 1961, ano em que se encerra a onda emancipacionista que impactou profundamente no mapa do município.

Sobre a gênese e a pré-história do território do município, estudos arqueológicos revelam que indígenas da chamada Tradição Umbu, durante seu processo migratório em busca de alimentos, ocuparam a região que hoje constitui o Vale do Sinos. Eram os índios kaingang, com os quais os colonos teriam contatos e conflitos esporádicos, num segundo momento. Além deles, havia também índios guaranis circulando e habitando a região de terras alagadiças situadas entre os rios Gravataí, Jacuí, Caí e Sinos. Esses índios eram egressos da Aldeia dos Anjos e adjacências, situada no território onde hoje estão localizados Gravataí, Cachoeirinha e Lomba Grande. Da mesma forma, nesse território já estavam estabelecidos estancieiros lusobrasileiros descendentes de açorianos, chegados ao Rio Grande do Sul a partir de 1752 para ocuparem a região missioneira, permutada entre Espanha e Portugal no Tratado de Madri. Estes, entretanto, terminaram por se estabelecer em pequenas comunidades na região dos vales e nas proximidades do litoral rio-grandense.

Em relação à população negra, antes mesmo da chegada dos primeiros imigrantes alemães, já se faziam presentes homens e mulheres negros escravizados, desde a implantação da Real Feitoria do Linho Cânhamo, empreendimento estatal que tinha sua base na mão de obra escravizada. Num segundo momento, até mesmo os imigrantes, apesar de proibidos por lei de possuírem escravos, utilizavam brechas legais da legislação e adquiriam para si um dos símbolos de status social da época: a posse de escravos. Tanto que, em 1872, São Leopoldo contava com 1.546 escravos, num universo de 30.857 habitantes. Através de recortes do cotidiano, buscamos instigar sonhos e questionamentos, resgatar trajetórias de protagonistas e coadjuvantes reveladores de histórias, tanto de indivíduos e de famílias quanto de instituições, realçando suas conexões sociais geradoras de experiências.

Organizado em capítulos, o livro “Histórias de São Leopoldo” aborda a gênese da localidade, desde os primeiros habitantes, o contato do vilarejo luso com colonos alemães e as várias etapas da chegada deles, e suas contribuições para o desenvolvimento social e econômico. Da mesma forma, perpassamos os aspectos físico-naturais de São Leopoldo, principalmente o sinuoso rio que acessa o local, assim como suas modificações ao longo dos anos.

A colônia, capela curada, vila e depois cidade de São Leopoldo, que emerge dessa diversidade cultural proporcionada pelo encontro das várias etnias, logo se transformou num próspero vilarejo. A ocupação de lotes urbanos e rurais pelos imigrantes e o contato com os que aqui habitavam passou a constituir notável base sócio-cultural. É a partir da segunda metade do século XIX, depois da Revolução Farroupilha, com a chegada de novas e sucessivas levas de imigrantes, que a cidade começa a enveredar nos caminhos da prosperidade sócio-econômica. Fossem esses alemães oriundos da Europa ou procedentes das colônias já existentes, deixaram importante contribuição para o desenvolvimento sócio-econômico da cidade. Por meio de sua vocação de artesãos e dotados de espírito empreendedor, passaram a atuar e a inaugurar setores importantes, como a metalurgia, a tecelagem, a ourivesaria, a tipografia, a marmoraria, entre outros. Mas tiveram presença destacada também na comercialização de produtos coloniais e na manutenção das casas de importação, que traziam produtos da Europa e dos Estados Unidos.

Além de prosperar economicamente, São Leopoldo, com o passar dos anos, tornou-se um polo produtor de conhecimento, através das ações de três importantes igrejas (católica, confissão luterana e luterana) e das congregações e ordens a elas vinculadas, fundando escolas que atualmente são centenárias, bem como seminários de formação para o clero dessas três respectivas confissões. Quantas histórias para contar nesses 199 anos! Cada uma em seu devido tempo histórico, carregando a sua bagagem, nela inseridos conteúdos como o seu modo de agir e pensar, os seus costumes, crenças e tradições. Nesse sentido, enveredamos nos nossos escritos contemplando um longo recorte temporal historiográfico. Logicamente sem a pretensão de “dar conta de tudo” ou de abordar toda história de São Leopoldo; entretanto, resgatando algumas trajetórias individuais ou institucionais que foram protagonistas em suas respectivas épocas, fazendo uso de narrativas e conteúdos biográficos e de ampla inserção de imagens.

E, com certeza, nesse espaço de tempo foram bastante amplas e significativas as iniciativas empreendedoras de leopoldenses no sentido de “fazer São Leopoldo acontecer”, sem jamais perder de vista os valores da vida, da liberdade, da justiça e da responsabilidade social.