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Duas chagas
註釋

Os que não sabem

matam e suprem com mesmo destino.

Filhos da mentira, amamos porque não.

Alegóricos .

Os olhos e os dedos apressam alguma conciliação

que afaga nossa parte inválida.

Por todo esse tempo formamos o alvo certo

e nos arremessamos em riste,

humanamente, perdidamente.

Histórias justificadas, rompidas, libertas

valem nada se uma palavra esvanecida nos serve.

Decadentes.

Rimos da nossa igual finitude, nos vexamos.

Adoráveis e decadentes.

Nossos poemas possíveis estontearam

na saúde da boca, na cabeça madura.

Pobres autores de nós, que sabemos.

Diante de um silêncio de mais de dois anos, que se seguiu a publicação de seu primeiro livro de poemas Trajetória de antes , poder-se-ia indagar se Mariana lanelli teria posto de lado a poesia. Puro engano. Com este novo livro ela se mostra cada vez mais envolvida por um instigante e provocativo "fazer poético". Duas chagas - um nome estranho para uma obra de autora jovem, que não pode ter vivido, na vida real, as angústias que os poemas contêm - é um livro complexo, que revela um mundo intelectual agitado e revolto e provoca em mim a busca de um significado oculto. Confesso minha perplexidade inicial, que se foi transformando em curiosidade: é normal que jovens ensaiem poesia que reflita sentimentos amorosos ou de inquietude, mas o que Mariana Ianelli faz vai muito além disso. É um questionamento dos homens e do mundo, que seria compreensível se vindo de alguém mais velho, com muito sofrimento e desilusões. Ora, este não é, evidentemente, o caso e daí a surpresa, que, provavelmente, não será só minha.

Seu novo livro, entretanto, é obviamente fruto de talento e sensibilidade, que faz com que muito se possa esperar da trajetória poética e literária de Mariana Ianelli.

José Mindlin