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Por que os homens não se rebelam? Aquiescência e Política em Antonio Gramsci
註釋

Aquiescência. Não poderia ter tido melhor escolha terminológica o jovem e promissor autor desse livro escrito com limpidez e perspicácia para retratar uma situação generalizada no Brasil e no mundo. Resgatado com análises de autores e teorias políticas modernas e contemporâneas o significado desse conceito ganha surpreendente atualidade nas ponderadas páginas que desenvolvem sua argumentação. 

Como um bom investigador, Victor Gomes detecta sinais inquietantes da “era da aquiescência” vivenciada por consideráveis setores da população que pautam seu comportamento no consentimento tácito, na cumplicidade silenciosa e na “servidão voluntária” à estrutura de poder instalada na sociedade. Traça um quadro preciso do poderoso sistema de gerenciamento social sustentado não apenas na concentração do poder econômico e militar, mas, essencialmente, na propagação sofisticada e irresistível de valores que a classe dominante inocula pela sedução, o consumo, a diversão, as recompensas servis que moldam as consciências e permeiam sutilmente o subconsciente. O resultado dessa estratégia pode ser visto na disseminação de um clima de letargia e de conformação que toma conta da sociedade, na busca de vantagens individuais dos que se adequam à situação vigente e abdicam da luta por mudanças. 

Sintomaticamente, este livro aparece quando se esvaneceu a euforia suscitada pelas grandes manifestações de 2013 e quando cresce o sentimento de impotência frente à facilidade com que o sistema consegue suportar, desativar e metabolizar focos de resistência e surtos de rebelião que não deixam maiores consequências. No entanto, a refinada habilidade que o capitalismo demonstra em se recriar não deprime o autor dessas páginas que, se coloca à mostra uma das mais perigosas enfermidades do nosso tempo, se encarrega também de sinalizar preciosos remédios. Explicam-se, assim, as numerosas referências às ideias de Antonio Gramsci, um intelectual-militante que “odiava os indiferentes” e um dos mais penetrantes analistas das complexas sociedades contemporâneas e das estratégias de lutas dos subalternos em épocas de crise e aparentemente sem saída. 

No intuito de abalar a apatia, a omissão e a insensibilidade sociopolítica em que estamos mergulhados, Victor Gomes resgata o papel indeclinável dos intelectuais que com sua função crítica concorrem para desmascarar as contradições do modelo vigente e sinalizam novas propostas. Neste sentido, estabelece também uma interlocução com autores, como Michel Foucault, que se dedicam a desvendar a fenomenologia do poder e as insidiosas armadilhas que ameaçam a democracia, ainda frágil no nosso mundo. Portanto, os que andam entregues à desilusão e à falta de perspectivas de futuro vão encontrar nesse livro instigantes elementos para sair do torpor mental e da aquiescência ao status quo e recobrar a vontade de se envolver com destemidos movimentos sociais e criativas organizações políticas. Mas, também as esquerdas desorientadas e desanimadas poderão descobrir nessas páginas os caminhos da “grande política” que, ao se voltar para a construção de um projeto alternativo de sociedade, não descuida das ações “moleculares” e da “guerra de posição” travadas diariamente pelas classes populares e pelos subalternos, sem o protagonismo dos quais não há verdadeira transformação nem autêntica política e democracia. 

Giovanni Semeraro
Professor de Filosofia da Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF)