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註釋“Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, foi publicado em 1904. Iniciava-se a República, e ainda havia uma forte reminiscência do Império. Trata-se de um romance diferente, comparado com os demais livros de nosso grande escritor, ainda que próximo, do ponto de vista da construção da narrativa, de outros livros de Machado de Assis, a exemplo de “Dom Casmurro” ou do “Memorial do Aires”. Em “Esaú e Jacó” não se percebe, aparentemente, uma possibilidade de futuro ficcional no contexto de uma disputa permanente de dois gêmeos em torno de uma mulher. É a opinião de John Gledson, professor da Universidade de Liverpool, autor de ensaio fundamental sobre a obra de Machado de Assis . Tem-se um enredo de algum modo incerto, que parece ostensivamente tentar confundir o leitor. Cuida-se de narrativa que enfatiza o ceticismo e o relativismo, ainda que não se revele indiferente . No núcleo, “(...) a invencível hostilidade recíproca de dois irmãos gêmeos, de opostos temperamentos e de tendências opostas” . “Esaú e Jacó”, uma referência bíblica, descortina a trajetória de dois irmãos, inimigos e opostos, desde a gestação. A narrativa está em Gênesis, 25. A oposição entre irmãos também foi explorada pelo escritor brasileiro Miltom Hatoum , que ambientou o conflito na cidade de Manaus. Há semelhanças entre os argumentos do Velho Testamento, de Machado de Assis e de Miltom Hatoum. No contexto do selo Direito e Literatura a narrativa de “Esaú e Jacó” possibilita olhar privilegiado na construção dos arranjos institucionais republicanos, que persistem, entre nós, até presentemente, com variações apenas de pormenor. Nesse sentido, Machado de Assis é um historiador, e seu relato, ainda que ficcional, pode ser lido como fonte primária . Tem-se em “Esaú e Jacó” um pano de fundo que nos remete à proclamação da República e aos passos fundantes do constitucionalismo republicano brasileiro. Pode-se inferir dessa fascinante leitura informações relativas à instalação da República entre nós, bem como – e principalmente – sobre o ambiente cultural e ideológico que marcou a queda do Império.