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O Verde na Paisagem Agreste de Pernambuco: Urbano e Rural
註釋

 Se pensarmos só em uma árvore talvez fique a sensação de estarmos pensando pequeno. Mas se pensarmos nas árvores dos quintais, dos jardins, das calçadas, das ilhas, das avenidas, dos parques, da imensa massa verde que existe em várias cidades, teremos a sensação gratificante de estar trabalhando por um ambiente melhor, mais saudável, sustentável... estaremos trabalhando pelas árvores, pela vida.

  Paulo de Tarso Batista[1]

 

O estudo do verde é de fundamental importância para se entender a organização do espaço tanto rural, quanto urbano. No semiárido do nordeste do Brasil, por exemplo, especificamente em áreas do Agreste de Pernambuco verifica-se que, em ambos os espaços urbano e rural, há uma nítida falta de conexão entre o verde e o homem devido ao fato de se perceber que os elementos componentes da flora nativa e da paisagem típica dos sertões, passam a dar lugar ao exotismo das palmas e gramíneas para a formação de pastagens nas áreas rurais enquanto que na area urbana, a arborizacao e o paisagismo passam a ser compostos, predominantemente, de exóticas nas calçadas e outros espaços públicos ficando os cultivos de plantas nativas ou não, ornamentais ou medicinais restritas aos quintais e jardins, os quais se aproximam da flora local. Assim, objetivou-se fazer estudos nesses espacos, da situação presente, buscando-se evidenciar o contra-senso ou paradoxo da relação homem/natureza pela perspectiva sistêmica de análise da paisagem. Para tanto, teve-se a colaboração de bolsistas de iniciação científica que estudaram, em particular, seus municípios de origem fazendo-se, então, articulações entre as diferentes realidades encontradas para o entendimento da complexidade, a qual envolve a sustentabilidade, que se delineia frente às contradições do discurso ambiental, mediante a cultura já estabelecida do nordeste seco. Os aportes metodológicos compreendem, fundamentalmente, a observação norteada pela percepção, aplicação de formulários aos habitantes dos referidos municípios analisados, tomada de história de vida em alguns casos, e registros fotográficos das diversas situações encontradas. Optou-se pela abordagem sistêmica para encadear e articular os procedimentos, além de se considerar viável para o amalgamento da base teórica calcada na teoria da complexidade de Morin. Os resultados apresentados apontam para uma concepção de verde que nao condiz com o ambiente semiarido e nem tampouco com as ideias de sustentabilidade. Pode-se citar que, como se pode verificar nos textos que compoem esse trabalho, observa-seum afastamento da flora local e nativa pela preferência dada às espécies exóticas em ambos os ambientes, rural e urbano. Também se ressalta o pouco apreço que se percebeu da população, em geral, em relação aos elementos verdes, ou seja, apesar de expressarem preocupações com a natureza, árvores entre outros, não praticam a observação valorativa do espaço através da imagem e simbologia que as árvores, em especial, representam. Cabe, ainda considerar, nesse contexto, a pouca importância dada pelas gestões municipais em termos de melhoramento, conservação e/ ou preservação de um patrimônio público e considerado pela legislação, como bem difuso da população que é o verde, seja rural ou urbano. Pressupõe-se, portanto, que tratar do verde, em qualquer espaço, é colaborar para a construção de um ambiente mais adequado e mais sustentável.

O contexto atual, em termos de se pensar a sustentabilidade do planeta, favorece reflexões sob diversas abordagens praticas, teóricas e metodológicas, também, em níveis locais e regionais. Logo, o semiárido nordestino brasileiro demanda estudos nos quais os resultados contribuam, em alguma escala, para as dimensões educacionais, politicas, administrativas entre outras.

A temática que se insere traz a tona elementos que identificam certa discrepância evidenciada na relação homem / natureza no âmbito urbano e, também rural em termos de vegetação. Natureza que na concepção de Moscovici (2007, p. 28) é pensada à semelhança de um arco-íris: “eu sei que a natureza não tem nada de verde nem de cinza, que ela representa na verdade, uma paleta infinita de cores. Ela é para nós a ideia que compreende todos os caminhos possíveis, no tempo, entre o acaso e a necessidade limitante”. Assim, o semiárido nordestino e o homem sertanejo foram, na linha do tempo, associados ao sofrimento e ao cinza da paisagem da caatinga. Costumeiramente rotulados com o fardo histórico do determinismo, parecendo não haver saída ou solução. Pensamento que vem, gradativamente se modificando pelas inúmeras iniciativas publica e/ou privadas de mostrar que a convivência com, e no semiárido é possível desde que se encontrem persistentes formas de desenvolver a área, produzindo e vivendo com respeito a essa natureza, atentando para suas fragilidades.

Na trilha desse movimento engaja-se, também, com pesquisa sobre o verde urbano e rural sobre alguns municípios do agreste de Pernambuco utilizando-se a estratégia de agregar subprojetos que oportunizam aos acadêmicos bolsistas de iniciação cientifica a experiência de estudar o verde de seus municípios de origem, seja urbano ou rural. Nesse contexto, importa que, mediante leituras dirigidas de cunho sistêmico, os mesmos percebam a importância do lugar e suas paisagens articulando os conceitos com a dinâmica evidenciada na relação do citadino, morador, transeunte, proprietário rural com o verde em sua volta, quase fazendo lembrar a organização do cristal com sua rigidez mineral e a chama da vela decompondo-se pela fumaça, tomando-se Atlan (1992, p.9) como referencia.

Os estudos sistêmicos visam contextualizar a realidade ressaltando as teias que estão pré-estabelecidas e aquelas que estão se formando, cujas tramas possibilitam uma melhor compreensão da situação por não se limitar na extenuante busca da causa – efeito, mas contribui para o questionamento do ser pensante e da sociedade sobre os elos com a natureza num mundo cada vez mais sem tempo pelo trabalho que se impõe.

Logo, é fato que as paisagens urbanas e rurais são reflexos dessa forma de relacionamento ecologia x economia ao mesmo tempo em que a afetividade com o lugar, principalmente pela falta ou pela pouca experiência e/ou vivencia, propicia certo afastamento, praticamente sem culpa ou responsabilidade maior com os bens capitais naturais e, concorda-se com Serres quando ele afirma que a sociedade encontra-se num momento de assinatura de um contrato:

Trata-se da necessidade de rever e de voltar a assinar o mesmo contrato social primitivo. Este diz-nos respeito para o melhor e para o pior, segundo a primeira diagonal, sem mundo; agora que sabemos associar-nos perante o perigo, precisamos de conceber, ao longo da outra diagonal, um novo pacto a assinar com o mundo: o contrato natural. Cruzam-se, assim, os dois contratos fundamentais (SERRES, 1990, p. 31 - 32).

Ou seja, a busca da compatibilidade harmoniosa entre o verde endêmico e o verde exótico deveria ser melhor considerado. Não é porque se está num município interiorano que se despe a paisagem urbana das conotações da vegetação do entorno, de certa forma negando-a, mas pelo contrario, os elementos verdes presentes naturalmente no local prestam-se bem ao paisagismo desde que este, enquanto atividade da administração municipal, seja adequadamente planejado e gerido podendo, inclusive ser concatenado com o exotismo de outras espécies.

As pesquisas apresentadas nesse livro tem como ancoradouro a proposta de estudar o verde do Agreste de Pernambuco, especialmente o Agreste Meridional tendo-se Garanhuns e municípios próximos como locais de estudo, desde que estejam inseridos no semiárido, cujo mapa (Figura 1) apresenta nova configuração politica.

Além dos 1.031 municípios já incorporados, passam a fazer parte do semiárido outros 102 novos municípios [...]. Com essa atualização, a área classificada oficialmente como semiárido brasileiro aumentou de 892.309,4 km2 para 969.589,4 km2, um acréscimo de 8,66%. Minas Gerais teve o maior número de inclusões na nova lista - dos 40 municípios anteriores, vai para 85, variação de 112,5%. A área do Estado que fazia anteriormente parte da região era de 27,2%, tendo aumentado para 51,7%de acordo com a Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional. Ministério da Integração Nacional (2005. p. 05).

A região semiárida do nordeste brasileiro  corresponde, aproximadamente, a 13,5% do território. Se caracteriza pelas irregularidades pluviométricas e temperaturas elevadas apresentando o clima BSh, tomando-se como referencia a classificação de Koppen. Os solos, em geral, podem ser caracterizados como sílico argiloso e apresenta, ainda, uma alta radiação solar, baixa nebulosidade, media anual de temperatura elevada, baixas taxas de umidade relativa e evapotranspiração elevada. Esse conjunto de características propicia o fato de que a maioria dos rios dessa região seja intermitente (ABILIO; FLORENTINO, 2011, p. 42 – 43).

O levantamento bibliográfico foi dirigido para assimilação de cada proposta, uma vez que os sub projetos tem ação similar e simultânea, mas com realidades diferenciadas, encontrando- se no conteúdo interdisciplinar as bases necessárias ao enfoque integrado da questão do verde urbano e/ou rural. Aplicou-se a técnica da observação associada à aplicação de formulários em todos os casos nos diferentes municípios. Constitui-se o formulário, predominantemente de perguntas fechadas dirigidos aos atores presentes por ocasião da abordagem.

Os dados apresentados, os quais foram estudados à luz da literatura disponível sobre o assunto e associados, sempre que possível, ao registro fotográfico contribuindo assim na documentação da informação, proporcionaram conclusões, algumas parciais, outras consideradas de caráter mais concreto e final, as quais podem ser uteis para fomentar novos estudos e ações. Registra-se, ainda, que em alguns casos utilizou-se a técnica de história de vida.

A aplicação dessa técnica foi, e continua sendo um dos pontos relevantes dessa pesquisa. Tecnicamente, as representações dos sujeitos, baseados em suas “histórias de vida”, são fundamentais para o entendimento da questão, pois, só é possível chegar aos aspectos do cotidiano desses sujeitos que vivem em seus municípios seja na área urbana ou rural através de suas memorias.

Segundo Meihy (1996), a história de vida constitui-se numa metodologia que trata a narrativa do conjunto de experiências de vida de uma pessoa. Trata-se de um tipo de busca que visa a utilização de fontes orais em diferentes propósitos, para adquirir um melhor entendimento do que se almeja com a referida pesquisa, sendo importante frisar que considera-se ser uma maneira inovadora de se tratar a temática do verde sob abordagem sistêmica e interdisciplinar.

Espera-se que os relatos advindos por ocasião da coleta das histórias orais possam, por meio da memória dos sujeitos e dos processos dinâmicos ocorridos em suas vidas, trazer à tona elementos substanciais das relações destes com os conteúdos do local onde reside, associados ao verde.

Enfatiza-se também, que este método possibilita extrair da comunidade conhecimentos exclusivo daquela área. Assim, por meio da subjetividade e do simbolismo há uma grande contribuição para a pesquisa em seu âmbito qualitativo. Através dos fatos e dos aspectos identitários, emergem os objetos, ou seja, a fala, os gestos, as ações, se constituindo desse modo num registro que guarda uma diversidade profunda de manifestações inerentes à trajetória do sujeito, em que sua vida cultural foi constituída.

Assim, a metodologia que se apresenta tem um caráter dinâmico coadunando-se com a visão sistêmica e interdisciplinar, posições teórico–metodológicas, atualmente em ascensão nos meios acadêmicos, principalmente.

Assim sendo, contempla-se nesse trabalho resultados de trabalhos e subprojetos referentes aos municípios de Canhotinho, Correntes, Calcado, Garanhuns, Jupi, São João, e Venturosa todos na região semiárida do agreste pernambucano. Registra-se, ainda, que os mesmos serao dispostos ao longo do livro em ordem alfabetica dos principais autores.

No mais, espera-se estar disponibilizando um conteudoutil e atualizado para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre o assunto tratado, bem como enriquecer o conhecimento existente para os municipios contemplados nessa empreitada.

 

REFERENCIAS


ABÍLIO, Francisco José Pegado; FLORENTINO, Hugo da Silva. Ecologia e conservação ambiental no semiárido. In: Educação ambiental para o semiárido. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.

ATLAN, Henri. Entre o cristal e a fumaça: ensaio sobre a organização do ser vivo. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeior: Jorge Zahar Ed., 1992.

BATISTA, Paulo de Tarso. O meio ambiente, as cidades, as arvores urbanas e a sbau. In: Sociedade Brasileira de Arborização, 2010. Dispnivel em http://www.sbau.org.br/materias.htm. Acesso: 27 abr  2014.

Mapa do Semiárido Brasileiro. Secretaria de Políticas Desenvolvimento Regional. Ministério da Integração Nacional. Nova delimitação do semiárido brasileiro. Disponível em: <http://www.museusemiarido.org.br/expedicao/cartilha_delimitacao_semi_a rido.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2011.

MEIHY, Carlos Sebe. Bom, manual de história oral. Loyola, São Paulo,1996.

Ministério da Integração Nacional. Nova delimitação do semiárido brasileiro. Disponível em: <http://www.museusemiarido.org.br/expedicao/cartilha_delimitacao_semi_a rido.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2011.

MOSCOVICI, Serge. Natureza: para pensar a ecologia. 2 ed. Traducao de Maria Louise Trindade Conilh de Beyssac e Regina Mathieu. Rio de Janeiro: Mauad X: Instituto Gaia, 2007.

SERRES, Michel. O contrato natural. Tradução de Serafim Ferreira. Lisboa, Portugal: Instituto Piaget, 1990.

[1] Disponivel em http://www.sbau.org.br/materias.htm. Acesso: 27 abr. 2014