Este volume 14, uma coletânea selecionada de artigos originais - entre tantos outros acolhidos e apreciados pela Comissão Editorial e Científica deste volume -, traz-nos seis artigos científicos de investigação e dois ensaios. Os três primeiros artigos deste volume trazem-nos vários olhares acerca da relação entre imigração e saúde, curiosamente o tema que lançou esta revista científica. No primeiro artigo as autoras (Rute Gomes, Sónia Dias e Carla Nunes) analisam a prevalência da tuberculose entre os imigrantes residentes em Portugal, refletindo acerca dos fatores de risco e das características sociodemográficas e clínicas da população que induzem à relação entre a epidemiologia e o fenómeno das migrações. Recorrendo a dados oficiais sistematizados pelo Programa Nacional de Vigilância Epidemiológica da Tuberculose, as autoras mostram que embora Portugal seja ainda classificado como um país de incidência intermédia de tuberculose, tem vindo a ter um aumento da proporção de casos de tuberculose na população imigrante, identificando a necessidade de serem desenvolvidas abordagens diferentes e adaptadas às necessidades específicas das populações residentes no país. O segundo artigo centra-se no estudo comparado dos comportamentos de saúde e de risco de adolescentes portugueses e estrangeiros residentes em Portugal, entre 2010 e 2014, exatamente nos anos em que o país viveu uma crise económica e financeira. Recorrendo a dados do estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children, que retratou também o caso português, as autoras (Margarida Gaspar de Matos, Tânia Gaspar e Cátia Branquinho) concluem que as variáveis nacionalidade e estatuto socioeconómico são fundamentais para ter em conta na investigação e na intervenção em promoção da saúde em Portugal. O terceiro artigo científico, de Chiara Pussetti, apresenta uma visão e reflexão antropológica para problematizar e recomendar o desenvolvimento de dispositivos culturalmente competentes e competências interculturais por parte de profissionais, nomeadamente da saúde, perante o incremento dos fluxos migratórios em Portugal e a associação entre migrações e psicopatologias. A autora enquadra o papel do mediador cultural em contexto clínico, refletindo acerca dos desafios, paradoxos e ambivalências da mediação intercultural nos serviços procurados por imigrantes.
O quarto artigo, de Nuno Oliveira, traz um olhar inédito ao estudo da participação política e cívica dos estrangeiros residentes em Portugal por retratar a realidade dos cidadãos comunitários, em particular dos ingleses, espanhóis e romenos. O autor sistematiza legislação nacional acerca dos direitos políticos dos cidadãos europeus em Portugal e dados oficiais acerca do recenseamento eleitoral, refletindo acerca das estratégias políticas e de representação dos grupos estudados. O quinto artigo, de Inês Branco, reflete acerca do papel da língua e dos media na integração dos imigrantes, surgindo o caso dos imigrantes portugueses em Macau como bastante interessante e relevante para esta análise por o português ter um enquadramento histórico naquela região que enquadra (e desmobiliza) a aprendizagem de outras línguas locais pelos imigrantes portugueses, o que induz a uma reflexão pertinente acerca do que significa neste contexto a integração. Finalmente no sexto artigo científico, Diane Portugueis, assume o contributo da História para a reflexão do lugar que adquirem socialmente e ao longo do tempo os fluxos de imigração, bem como o sentido que a História dá à integração dos descendentes de diferentes gerações de imigrantes. A autora centra-se no caso da imigração alemã para o Brasil, recordando os primórdios desse fluxo ainda sob a regência de D. João VI - com os contornos e desafios do encontro entre populações ainda no século XIX que conduziram ao seu fechamento e isolamento -, para a fase da campanha do Estado Novo de nacionalização e promoção da assimilação e ‘abrasileiramento’ das populações imigrantes. Este volume conclui com dois ensaios que se enquadram de diferentes formas na atualidade das migrações. No primeiro texto de natureza ensaísta, Ana Piedade problematiza o lugar do ‘corpo’ enquanto território cultural, refletindo acerca de que forma as práticas corporais podem induzir à construção de identidades e alteridades múltiplas. Finalmente o último ensaio promove uma reflexão acerca dos desenvolvimentos e dificuldades da ação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) face à situação atual dos refugiados.