É atualmente inegável a centralidade dos livros de cavalarias no seio da ficção em prosa da Ibéria quinhentista, bem como a sua importância enquanto antecedentes do romance moderno. Este livro insere-se num renovado interesse académico por este corpus, ao apresentar uma nova leitura do Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda (1567), de Jorge Ferreira de Vasconcelos.
Fundamentado em estudos literários e culturais da memória, o livro estrutura-se em duas vertentes complementares. Por um lado, revela as relações transtextuais estabelecidas com textos arturianos da tradição medieval e os livros de cavalarias ibéricos do século XVI, através das personagens, do tempo e do espaço narrativo. Por outro, explora os processos de fixação da memória no texto, destacando interconexões entre memória, fama e escrita.
Partindo dessas duas facetas da memória literária enquanto memória cultural, evidencia-se de que maneira se recriam e adaptam tradições anteriores ao contexto da segunda metade do século XVI. Este livro mostra o Memorial enquanto texto inscrito num contexto pejado de fenómenos estético-culturais antitéticos, propondo a interligação entre ficção e memória neste nem sempre reconhecido texto da literatura portuguesa.