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Mulheres, Liderança Política e Media
註釋

O tema está na ordem do dia. Torna-se jornalisticamente pertinente comparar o número de mulheres que encabeçam as listas candidatas pelas várias formações políticas ou antecipar o sucesso da Lei da Paridade na obtenção de um maior equilíbrio entre homens e mulheres nos órgãos de poder. No horizonte das eleições presidenciais de 2016, candidaturas femininas são apresentadas como quebrando barreiras. A gravidez e nudez, ostensivamente exibidas num contexto político, geram intensa controvérsia pública.

A obra, que resulta da tese de doutoramento da autora, propõe um novo olhar sobre a política e o jornalismo da perspetiva do “género”. Este é um campo de investigação pouco explorado, dado o escasso número de mulheres que até à data chegaram ao topo da liderança política em Portugal. Mas trata-se de uma pesquisa fundamental: o mundo político é inseparável do espaço de mediação jornalística, para onde confluem os poderes e onde se constrói (e destrói) a visibilidade pública.

O livro começa por enquadrar a evolução da participação feminina nos órgãos de política formal após a Revolução democrática de 1974. Apesar da consagração constitucional do princípio da igualdade, em pouco mais de quatro décadas, as mulheres raramente ascenderam às posições de topo da hierarquia de poder.

Discute-se, de seguida, o poder como representação. O primeiro problema coloca-se ao nível da (in)visibilidade das mulheres políticas na informação. Mas a questão é mais complexa, pois está diretamente associada às lógicas da mediação. Para que as mulheres adquiram visibilidade mediática, não é suficiente que estejam mais presentes nas instituições políticas, mas também que ocupem funções de maior responsabilidade.

De uma outra perspetiva, questiona-se se o género dos atores políticos influencia a narrativa jornalística, de certo modo ativando certos estereótipos sexuais. A política tem género sob o olhar dos e das jornalistas? Por exemplo, as mulheres políticas são mais escrutinadas por atributos como a aparência física ou a idade ou mais associadas à esfera privada e familiar?

Procura responder-se a estas questões através de dois casos em que as mulheres romperam com o cenário geral de invisibilidade feminina e alcançaram posições inéditas de liderança política e perfil mediático: Maria de Lourdes Pintasilgo (indigitada “primeiro-ministro” do V Governo Constitucional, em 1979) e Manuela Ferreira Leite (primeira ministra das Finanças, em 2002, primeira presidente do PSD, em 2008, e candidata por este partido às eleições legislativas de 2009).