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Aproximar-se das literaturas de língua portuguesa
註釋

Aproximar-se das literaturas de língua portuguesa: trançando lei­turas é um projeto motivado pela amizade entre os organizadores deste livro e pelo desejo de abertura para acolher vozes e textos dis­postos ao diálogo empenhado sobre literaturas escritas em língua portuguesa. Ambos somos pesquisadores acadêmicos e professores do Educação Básica, envolvidos demais com o prazer de nossas desco­bertas científicas e com a vontade de dizer sobre elas para além do espaço da academia – para nossos alunos, colegas e quem mais tiver abertura para essa prosa. 

Valdir Lamim-Guedes, editor da Editora Na Raiz, estava atento a esse nosso movimento e propôs a realização de um curso, para que falássemos das pesquisas acadêmicas realizadas em torno das literaturas escritas em língua portuguesa. A proposta era a de que pudéssemos mobilizar o conhecimento elaborado e bastante aprofun­dado produzido pela academia, apresentando-o por meio de uma lin­guagem convidativa a um público mais amplo, instigando sua curio­sidade sem deixar de oferecer acesso a uma crítica embasada e vigo­rosa. Nossa pergunta de base era: como tornar a pesquisa acadêmica acessível para um público em geral, sem menosprezar sua complexi­dade, profundidade e alcance?

A questão foi desafio dos encontros realizados online, junto às vozes parceiras que compartilham estas páginas conosco. Foi de­safio também durante as leituras e trocas a partir de cada um dos tex­tos enviados para esta edição, sobre os quais dialogamos tentando en­contrar esse equilíbrio de uma linguagem que une a tal “simplici­dade” da divulgação científica e a profundidade das reflexões acadêmicas. 

Resultado disso são textos que percorrem diversos temas e abordagens, sem deixar de conduzir os leitores para a conversa em cada passo e palavra. Marisa Corrêa Silva abre o diálogo com uma leitura bastante contextualizada de um poema de Sá-Carneiro, moti­vada pelas suas observações sobre a relação Eu e o Outro nestes tem­pos de pandemia ­– instiga pensar os termos da psicanálise por meio da observação cotidiana deste momento desafiador.

Alessandra observa o universo narrativo de Álvares de Aze­vedo, transcriado para os quadrinhos de Guazzelli – chama a atenção para a riqueza da costura entre texto e imagem, que não apenas adapta, mas também recria inventivamente o original.

Amanda Berchez, em uma leitura comparada, aproxima dois romances distópicos da literatura brasileira – convoca a pensar como eles efetivamente dialogam com um contexto político autoritário o qual desafia nossa inteligência e esperança na humanidade.

Carlos Gontijo Rosa volta o olhar às condições de produção do trabalho de dois autores excepcionais, ambos inquiridos pela In­quisição, Camões e Antônio José da Silva – num jogo perspicaz de pesquisador astuto, indica porque na concepção da instituição cató­lica, “Proteu pode e Judeu não”.

Fabiana Gonçalves elabora uma breve apresentação do per­curso poético de Machado de Assis, com especial ênfase ao volume de estreia, Crisálidas – lê e interpreta esse importante movimento desse nosso grande autor, num registro de importantes referências e leitura atenta.

Luís Gustavo Guimarães oferece um bilhete de viagem para leitura de Contos Tradicio­nais da CPLP – mais do que uma leitura, oferece um mapa afetivo de possíveis leituras e a expressão de senti­dos que por elas podem ser mobilizados.

Marina Gialluca Domene nos oferece uma viagem pelo so­turno mundo de Álvares de Azevedo numa análise de Macário, sua única peça teatral. A autora passeia pelo imaginário demoníaco do século XIX, fazendo um caminho que vai da origem simbólica de Sa­tan na cultura católica até Goethe. Tudo isso sem perder de vista o texto do poeta romântico brasileiro.

Rosana Baú Rabello tece um texto que poderia ser chamado de ex-voto à poesia africana de língua portuguesa. Transitando pelos ex-votos dessas mulheres-autoras e seus contextos, o texto-oração nos aproxima de um contexto ao mesmo tempo tão distante e tão próximo de nós, brasileiros.

Thaysy Ribeiro Nascimento uma jovem pesquisadora, nos traz uma fresca visão sobre objetos contemporâneos da literatura em língua portuguesa, as fanfics. Controversos nos meios acadêmicos, ela não apenas nos legitima esse gênero, como o sugere como ponte entre a literatura e a juventude.

Flavia Maria Corradin fecha o livro com um texto carinhoso que transita entre a memória, a afetividade e a análise sobre a obra do poeta brasileiro Horácio Costa, além de autor e objeto de estudo, amigo. Com ela, entendemos que a ciência literária é completa de afe­tividades e que a leitura do outro não se faz sem a leitura de si.

Como dissemos, é um trabalho de costura de muitas vozes em diálogo, com abertura para aproximarem-se num trançado de lei­turas que, esperamos, afaste a aridez por vezes vista nos textos aca­dêmicos “sin perder la ternura” que a literatura mobiliza.