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Percorrer a Cidade a Pé: Ações Teatrais e Performativas no Contexto Urbano
註釋O presente estudo propõe uma observação do modo de operar da arte contemporânea fundada no caminhar e uma investigação sobre o quanto ela se faz acessível ao espectador, o quanto ela é inclusiva, relacional e horizontal. Contrariamente a um entendimento de que a arte contemporânea é de difícil acesso, busco relacionar a dissolução de certos estatutos da cena contemporânea com a aproximação do espectador de sua estrutura de funcionamento, a ponto de ele se tornar mais indispensável para sua realização do que o próprio artista. Ao longo do livro, destaco o potencial pedagógico presente nessas ações, que se revelam aos espectadores não somente no ato de sua realização, mas também na exposição de seus programas e na produção dos rastros ou vestígios de sua execução. No primeiro capítulo, apresento esse contexto de dissolução, inicialmente no campo do teatro e, posteriormente, na configuração das performances, campo no qual as noções de cena, encenação e espectador são inoperantes. No segundo capítulo, apresento o ato de caminhar em relação ao pensar e ao criar, uma prática estética e política a ser desdobrada nos três capítulos seguintes. Desse modo, do segundo ao quinto capítulo, apresento modalidades do caminhar: passeios, derivas, fugas, perseguições e travessias realizadas por artistas diversos e, em alguns casos, por espectadores ou passantes. A maioria dessas ações, sobretudo as performances, resultam em outras materialidades (fotografias, vídeos, desenhos e narrativas) que são igualmente compartilhadas com espectadores ausentes. No último capítulo, trato desses rastros ou vestígios – bem como do acesso aos programas dessas ações – como um importante material para os espectadores, que, conhecendo os "modos de fazer" dessas modalidades artísticas, compreendem seus "modos de usar". Assim, caminhar como prática estética configura-se como um ato de transgressão ao sistema vigente, por se tratar não apenas de uma ação, mas de uma atitude ao alcance de toda e qualquer pessoa. Ao ocupar o contexto urbano desde sua dimensão mais baixa, o chão, o sujeito que caminha experimenta outras formas de sociabilidade e outras configurações para o real, inventando micropoéticas do devir.